O cotovelo é uma articulação complexa do membro superior, que envolve a união de três ossos: o úmero (osso do braço), a ulna e o rádio (ossos do antebraço). As fraturas de cotovelo em crianças são comuns, especialmente em idades em que a atividade física e os acidentes são frequentes. Compreender as fraturas de cotovelo nas crianças é fundamental para um diagnóstico rápido e um tratamento adequado, a fim de evitar complicações e garantir a recuperação funcional da articulação.

  1. Introdução

As fraturas de cotovelo em crianças podem ocorrer devido a traumas diretos ou indiretos, como quedas, acidentes esportivos ou até quedas de altura. As fraturas podem envolver diferentes componentes anatômicos da articulação do cotovelo, como a metáfise, epífise, fise (cartilagem de crescimento) ou as estruturas periarticulares.

A principal preocupação com as fraturas de cotovelo em crianças é a possível lesão das cartilagens de crescimento, que são responsáveis pelo crescimento ósseo. Podem também afetar lesões dos nervos que estão presentes na região. Isso pode interferir no desenvolvimento normal da articulação e resultar em deformidades ou limitações funcionais permanentes, se não tratado corretamente.

  1. Classificação das Fraturas de Cotovelo em Crianças

As fraturas de cotovelo nas crianças podem ser classificadas de várias maneiras, dependendo dos elementos anatômicos envolvidos e da idade do paciente. A classificação mais comum é a classificação de Gartland, servindo para as fraturas supracondileanas, que se baseia na localização da fratura e na estabilidade da fratura:

  • Fraturas supracondilianas (acima da articulação do cotovelo) são as mais comuns em crianças. Elas geralmente acontecem em crianças entre 5 e 10 anos de idade devido a quedas com o braço estendido. Essas fraturas podem ser instáveis e, portanto, requerem cuidados especiais, até tratamento cirúrgico.
  • Fraturas do epicôndilo lateral: Este tipo de fratura envolve a área onde os músculos extensores do antebraço se fixam no osso e ocorre com menor frequência do que as fraturas supracondilianas porém ao menor desvio, são cirúrgicas, pois são dentro da articilaçao.
  • Fraturas do olécrano (parte posterior do cotovelo): Embora menos comuns em crianças, essas fraturas podem ocorrer após trauma direto ou quedas com o cotovelo em flexão.
  • Fraturas do rádio distal: O rádio pode se fraturar na região distal, frequentemente associada a entorses ou traumas diretos. São as fraturas mais comuns na infância.
  • Fraturas das epífises proximais do rádio e ulna: As fraturas nas epífises (extremidades dos ossos que se conectam à articulação) são raras, mas podem ocorrer, sendo frequentemente tratadas de maneira conservadora ou cirúrgica, dependendo da gravidade.
  • Fraturas da fise (cartilagem de crescimento): Como as fises são regiões altamente vulneráveis, qualquer fratura envolvendo a fise exige uma avaliação cuidadosa para evitar danos ao crescimento ósseo. Mesmo tratadas corretamento podem levar a distúrbios de crescimento ou desvios e limitações.
  1. Mecanismos de Lesão

A maioria das fraturas de cotovelo em crianças ocorre devido a quedas, principalmente quando a criança cai sobre o braço estendido, uma situação muito comum em atividades como brincar, andar de bicicleta ou praticar esportes. O impacto direto ou a torção também podem causar fraturas na região do cotovelo.

Outros mecanismos de lesão incluem acidentes automobilísticos, lesões esportivas ou quedas de altura. Em algumas situações, a força de compressão e a flexão do cotovelo podem causar fraturas do olécrano ou das epífises proximais.

  1. Sintomas e Diagnóstico

Os sintomas mais comuns de uma fratura de cotovelo em crianças incluem:

  • Dor intensa no cotovelo, que pode ser agravada ao movimentar o braço.
  • Inchaço e hematomas (roxos) ao redor da articulação.
  • Deformidade visível: Em casos graves, pode haver uma deformidade óbvia da articulação, como um angulo anormal ou uma protuberância visível.
  • Impossibilidade de movimentar o braço: A criança pode não conseguir esticar ou dobrar o braço normalmente devido à dor e à lesão.

O diagnóstico é feito por meio de uma avaliação clínica detalhada e exames de imagem, com destaque para a radiografia. Em alguns casos, tomografias ou ressonâncias magnéticas podem ser necessárias para avaliar com mais detalhes lesões da cartilagem não visíveis ao Rx, especialmente em casos complexos onde a fratura envolve a fise ou quando há suspeita de lesão associada a ligamentos.

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  1. Tratamento das Fraturas de Cotovelo em Crianças

O tratamento das fraturas de cotovelo em crianças depende do tipo de fratura, da idade da criança e da localização da lesão. O objetivo principal é restaurar a função normal do cotovelo, minimizar a dor e prevenir complicações, como deformidades ósseas ou limitações no crescimento da articulação.

5.1 Tratamento Conservador

As fraturas de cotovelo que são estáveis, sem desvio significativo ou comprometimento das cartilagens de crescimento, podem ser tratadas de forma conservadora. O tratamento conservador geralmente envolve:

  • Imobilização: A fratura é imobilizada com o uso de gesso ou tala para garantir que os ossos permaneçam na posição correta enquanto curam. A duração da imobilização pode variar, mas geralmente fica entre 3 a 6 semanas.
  • Controle da dor: Analgésicos como paracetamol ou ibuprofeno são utilizados para controlar a dor.
  • Fisioterapia: Após a remoção do gesso, a fisioterapia é muitas vezes necessária para restaurar a amplitude de movimento e a força do cotovelo.

5.2 Tratamento Cirúrgico

Em casos onde a fratura é instável, deslocada ou envolve a fise, o tratamento cirúrgico pode ser necessário. A cirurgia tem como objetivo:

  • Reposicionar os ossos para garantir que eles se alinhem corretamente e promovam a cicatrização.
  • Fixação interna com o uso de pinos para estabilizar a fratura.
  • Reparação de ligamentos ou estruturas associadas em casos de lesão mais grave.

O tratamento cirúrgico é especialmente importante em fraturas do cotovelo que envolvem a fise, pois o comprometimento da cartilagem de crescimento pode afetar o desenvolvimento normal da articulação.

5.3 Cuidados Pós-Operatórios

Após a cirurgia, a criança pode precisar de cuidados contínuos, incluindo:

  • Imobilização adicional, dependendo do tipo de fratura e da cirurgia realizada.
  • Reavaliações radiográficas para monitorar o processo de cicatrização.
  • Fisioterapia para restaurar a função do cotovelo, melhorar a flexibilidade e prevenir rigidez.
  1. Complicações Possíveis

Embora a maioria das fraturas de cotovelo em crianças cicatrize sem complicações, existem algumas complicações que podem ocorrer:

  • Deformidade óssea: Se a fratura não for tratada adequadamente, ou pela própria gravidade da lesão,  pode ocorrer deformidade no cotovelo, o que pode afetar a função da articulação a longo prazo.
  • Lesões das cartilagens de crescimento: As fraturas que envolvem a fise podem afetar o crescimento normal dos ossos e levar a desajustes no desenvolvimento do cotovelo.
  • Rigidez articular: A falta de movimento ou o uso excessivo de imobilização pode resultar em rigidez na articulação, prejudicando o funcionamento normal do cotovelo.
  • Lesões nervosas ou vasculares: Lesões nas estruturas nervosas ou vasculares ao redor do cotovelo podem ocorrer em fraturas graves, embora sejam relativamente raras.
  1. Prognóstico

O prognóstico para as fraturas de cotovelo em crianças é geralmente muito bom, desde que o tratamento seja feito de maneira adequada e precoce. A maioria das crianças se recupera completamente e retoma suas atividades normais após o tratamento, com raras complicações a longo prazo. Contudo, o acompanhamento médico regular é essencial para monitorar a cicatrização e evitar problemas futuros.

  1. Conclusão

As fraturas de cotovelo em crianças são uma lesão comum, frequentemente causada por quedas ou traumas diretos. O tratamento pode ser conservador ou cirúrgico, dependendo da gravidade e da localização da fratura. Embora as complicações sejam possíveis, o prognóstico na maioria dos casos é muito bom, com a maioria das crianças recuperando completamente sua função normal. A conscientização sobre os cuidados adequados e a busca por atendimento médico rápido são essenciais para um tratamento bem-sucedido e para evitar sequelas permanentes.

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