A ortopedia pediátrica é uma subespecialidade da ortopedia que se dedica ao diagnóstico, tratamento e prevenção de condições músculoesqueléticas em crianças e adolescentes. Como o corpo de uma criança está em constante crescimento e desenvolvimento, as patologias ortopédicas e traumatismos pediátricas possuem características distintas em relação às doenças ortopédicas e fraturas em adultos. Os tratamentos em crianças exige uma abordagem especial, levando em consideração as particularidades do crescimento ósseo, do tecido cartilaginoso, dos ligamentos e das articulações.

Desenvolvimento do Sistema Músculoesquelético durante o crescimento

O sistema músculoesquelético infantil tem um desenvolvimento dinâmico e específico. Ao nascimento, os ossos das crianças são mais flexíveis e compostos em grande parte por cartilagem, o que permite um maior grau de deformidades e curvaturas durante o crescimento. Com o tempo, a cartilagem vai sendo substituída por osso mineralizado através de um processo chamado ossificação, que segue um padrão definido e ocorre em diversas etapas ao longo dos anos de vida.

O desenvolvimento ósseo infantil está intimamente ligado ao crescimento da criança. A placa de crescimento, também conhecida como fise, é uma área de cartilagem presente nas extremidades dos ossos longos e que permite que o osso cresça em comprimento. Quando a fise se fecha (geralmente no final da adolescência), o crescimento ósseo se interrompe, e os ossos atingem seu comprimento definitivo.

Por essa razão, as fratura e as doenças ortopédicas que afetam as crianças podem ter um impacto direto no crescimento e no desenvolvimento de ossos e articulações, sendo essencial um diagnóstico e tratamento precoces para evitar consequências a longo prazo.

Principais Condições Ortopédicas Pediátricas

A ortopedia pediátrica abrange uma vasta gama de condições que afetam tanto ossos quanto músculos, ligamentos e articulações das crianças. A seguir, algumas das principais condições ortopédicas pediátricas:

  1. Deformidades Congênitas

Muitas condições ortopédicas em crianças estão presentes desde o nascimento. As deformidades congênitas podem envolver alterações na estrutura óssea ou nas articulações, e, em muitos casos, são diagnosticadas ainda nas primeiras horas ou dias de vida.

  • Luxação Congênita do Quadril (Displasia do Quadril): É uma condição em que a articulação do quadril não se desenvolve adequadamente, resultando em uma luxação parcial ou total da cabeça do fêmur da cavidade do quadril. Existe alguns fatores de risco, que são o parto pélvico, primeiro filho e meninas, também associado a crianças grandes. Devem ser diagnosticadas ao nascimento ou nos primeiros dias de vida, com realização de radiografias e principalmente ultrassonografia dos quadris.  Pode ser tratada com imobilização (uso de órteses) nos primeiros meses ou tardiamente e, em casos mais graves, com cirurgia.
  • Pé Torto Congênito (Pé Equinovaro): Uma condição onde o pé da criança nasce em uma posição anormal, frequentemente virado para baixo e para dentro. Esta patologia deve ser diferenciada por alguém experiente, pois pode ser só um pé torto posicional intra útero e que não requer tratamento. O tratamento inclui manipulação com confecção de gessos seriados e, em alguns casos, até complemantaçao cirurgica.
  • Torcicolo congênito: É uma alteração do musculo esternocleido de um lado do pescoço e que faz com que a criança incline a cabeça para o lado e é diagnosticado com a realização de um Ultrassom. Geralmente o tratamento é conservados com fisioterapias de alongamento.
  1. Fraturas

As fraturas em crianças são comuns devido à alta atividade física e à elasticidade dos ossos em crescimento. A principal diferença entre as fraturas em crianças e em adultos é que os ossos infantis são mais flexíveis e estão em crescimento, por isso, apresentam fraturas mais fáceis de tratar, nem sempre necessitando de cirurgia, porém podendo acometer regiões de crescimento. Estas fraturas podem levar a desvios futuros ou alteração de crescimento (dismetria).

  • Fraturas impactadas ou em galho verde: Frequentemente observadas em crianças mais novas, esses tipos de fraturas ocorrem quando o osso é flexível.
  • Fraturas completas: Fraturas mais comuns em crianças mais velhas e que requerem mais intervenções cirúrgicas.

O tratamento pode envolver desde imobilização com gesso até cirurgia, dependendo da gravidade da fratura e do local afetado e da idade da criança.

  1. Escoliose

A escoliose é uma curvatura anormal da coluna vertebral. Embora a causa exata em muitos casos seja desconhecida, a escoliose idiopática (sem causa conhecida) é a mais comum entre os adolescentes e está relacionada ao estirão de crescimento. A escoliose pode variar de leve a grave e, se não tratada, pode levar a dores futuras e extremamente a problemas respiratórios.

O tratamento da escoliose depende do grau da curvatura. Em curvaturas leves, pode ser suficiente a observação, correção postural com exercícios ou uso de coletes ortopédicos. Em casos mais graves, a cirurgia pode ser necessária para corrigir a deformidade e prevenir complicações a longo prazo.

  1. Doenças Inflamatórias Articulares

Entre as condições ortopédicas pediátricas inflamatórias, a Artrite Idiopática Juvenil (AIJ) é uma das mais significativas. Trata-se de uma condição crônica que causa inflamação nas articulações, podendo afetar o crescimento e o desenvolvimento das crianças. A AIJ pode ser tratada com medicamentos anti-inflamatórios e, em alguns casos, com imunossupressores ou terapia biológica. Deve ser diferenciada das sinovites transitórias, de característica benigna e tratamento medicamentoso a curto prazo.

  1. Doença de Perthes e Escorregamento epifisário da cabeça do fêmur

A doença de Legg-Calvé-Perthes é uma condição que afeta a cabeça do fêmur, levando a uma interrupção temporária do fluxo sanguíneo para a área, resultando em necrose óssea. O tratamento geralmente envolve o repouso de atividades físicas, em casos mais graves ou crianças mais velhas, cirurgia para corrigir a deformidade. Já o escorregamento está relacionado ao estirão de crescimento, com dos nos quadris ou às vezes nos joelhos e é de tratamento sempre cirúrgico.

  1. Tornozelos e Joelhos

O tornozelo e o joelho são frequentemente afetados por lesões esportivas nas crianças, com entorses e distensões sendo comuns. No entanto, é importante também observar a ocorrência de osteocondrite dissecante (quando o osso de uma articulação começa a morrer devido à falta de fluxo sanguíneo), especialmente no joelho, que pode levar à necessidade de cirurgia para reparar o dano.

  1. Distúrbios do Crescimento

Algumas crianças podem apresentar distúrbios no crescimento ósseo, resultando em diferenças no comprimento dos membros. Isso pode ser causado por condições como displasia óssea, síndromes genéticas ou por lesões nos centros de crescimento (fises) dos ossos longos. O tratamento pode envolver intervenções cirúrgicas, como alongamento ósseo ou correção do crescimento de um osso mais curto.

Diagnóstico e Tratamento na Ortopedia Pediátrica

O diagnóstico ortopédico pediátrico exige um exame físico cuidadoso, muitas vezes complementado por exames de imagem, como raio-X, ultrassonografia (mais barato e não invasivo) ressonância magnética ou tomografia computadorizada. Além disso, exames laboratoriais podem ser solicitados quando há suspeita de doenças metabólicas ou inflamatórias.

O tratamento pode ser conservador, envolvendo fisioterapia, medicamentos (como anti-inflamatórios ou analgésicos) e dispositivos ortopédicos (como gessos, talas ou coletes). Em casos mais graves ou quando o tratamento conservador não é eficaz, intervenções cirúrgicas podem ser necessárias.

Conclusão

A ortopedia pediátrica é uma área fundamental da medicina, dada a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado das condições ortopédicas infantis para garantir o desenvolvimento saudável e funcional das crianças. A abordagem multidisciplinar, que envolve ortopedistas, fisioterapeutas e outros profissionais de saúde, é essencial para um manejo eficaz das condições ortopédicas pediátricas, com o objetivo de promover uma recuperação completa e o crescimento saudável. O acompanhamento contínuo também é importante para monitorar a evolução do tratamento e prevenir complicações a longo prazo.

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